domingo, 17 de janeiro de 2010

Veículos são guilhotinas de quatro rodas nas mãos dos imprudentes

Trânsito virou bandeira política neste ano eleitoral. Todos têm um culpado: setor público responsável pela política de trânsito do estado.
Duas pessoas morrem, em média, por dia, no Ceará. Onze ficam mutiladas. Cinco são atropeladas. Foram mil mortes em 1995. Quem é o responsável por esta tragédia?
O homem, motorista que trafega em excesso de velocidade, avança sinal vermelho, pára em cima da faixa de pedestres, ultrapassa pela direita, buzina desnessariamente, forma fila dupla, estaciona em paralelo, entra na contramão de direção, faz retorno em semáforo, fala ao celular dirigindo, estaciona a menos de três metros da esquina (veiculo pequeno) e a menos de 10 metros (veiculo pesado), entrega direção a menor de idade, faz “pegas”, etc.
O Detran do Ceará, BPTran, guardas e fiscais não matam ninguém. Eles apenas respondem aos apelos da sociedade para que punam a minoria de motoristas que teima em desrespeitar a legislação de trânsito. E os únicos instrumentos legais disponíveis são a multa e as punições administrativas, como a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação.
Nos últimos 12 meses, 335 motoristas tiveram as CNHs suspensas porque estavam dirigindo embriagados ou estavam envolvidos em “pegas”; 6576 veículos foram apreendidos porque estavam sendo dirigidos por pessoas inabilitadas; 279 por menores de idade; e 106 por envolvimento em “pegas”.
Levantar como bandeira a “indústria da multa” é encobri a tragédia da violência no trânsito que depende tão e exclusivamente de mudança radical no ato de dirigir do motorista porque o jeitinho brasileiro não funciona no trânsito. Se o motorista for dar um jeitinho de avançar o sinal vermelho porque é bom na direção do veiculo, o final poderá ser triste: morte, mutilação e danos materiais. Guarda ou fiscal nenhum, multa aleatoriamente. Pode haver erros de anotação e digitação. Mas, nem por isso o motorista deixou de cometer a infração. Partindo do principio de que “a parte mais sensível do homem é o bolso”, países da Europa, Ásia e América do Norte fixaram multas altíssimas e punições severas para quem desrespeita a sinalização. O avanço de sinal vermelho em Paris custa US$ 540. Ninguém paga porque ninguém é doido de passar na luz vermelha.
Mesmo assim, só conseguiram alguns resultados depois que chegaram ao correspondente a 1,5 multas por veiculo/ano, além de punições. O Ceará está com 0,59 multas por veiculo/ano.
São 327 infrações para cada grupo de 10 mil veículos. São infrações pelas quais o proprietário do veiculo paga uma multa. E essas são apenas as que a fiscalização consegue detectar porque o número de irregularidades, com certeza, é dez vezes maior. Como o estado tem uma frota de 459.396 veículos, isso significa dizer que apenas 3,27% dos motoristas são responsáveis por este quadro de tragédia. Os outros 96,76% são cidadãos que trafegam a médio e longo prazo.
Trânsito não mata. A imprudência e a irresponsabilidade sim. E por isso os veículos foram transformados em guilhotinas de quatro rodas.
Texto transcrito de Jornal da ABDETRAN nº 8 Outubro/96 escrito por Augusto Brandão - Assessor de imprensa do Detran-CE (texto do boletim Via Preferencial nº 101)

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